12.3.13

Sobre surpresas e ser menos nós mesmo...

Eu programo a vida, eu programo o dia, as horas... mesmo não seguindo a maioria daquilo que programo, eu sou daqueles que tem a pretensão de imaginar sempre onde vai estar e o que vai estar fazendo. Sigo um rigorosíssimo código de conduta, que só existe na minha cabeça, que foi forjado por anos imerso em uma cultura machista e cristã (quem sabe um dia terei culhão pra escrever sobre isso). Não gosto de surpresas (meus amigos sabem disso) e fico meio contrariado, as vezes desestruturado, quando muitas coisas não previstas começam a acontecer.

Essa premissa toda pra dizer que tenho trabalhado para mudar. Tenho me surpreendido com as surpresas. Agora mesmo estou vivendo uma surpresa que tem me deixado inquieto, ofegante e com o coração em constante arritmia... em outros tempo, eu já teria estragado tudo por conta dos planos para "daqui a pouco", já teria perguntado que nomes daremos aos nossos filhos ou quais as músicas que ele quer no casamento; mas estou sendo um pouco menos eu e me acostumando com a adrenalina das muitas surpresas...

Não posso dizer que gosto de todas, na verdade - deixa pra lá! Mas tenho gostado de olhar pra mim mesmo dizendo "permita-se". Arriscar me deixa inseguro...

25.2.13

Sobre manias, o mais e o menos, prazos e cartas de suicídio

Sou um homem cheio de manias, sou daqueles que esvazia a mochila todos os dias e repõe as coisas depois a noite para que na manhã seguinte esteja tudo pronto. Odeio pegar em maçanetas de banheiros públicos, sou capaz, caso não tenha papel, de ficar na porta esperando que alguém a abra do lado de fora. Tenho asco de chão de banheiros, mesmo os de casa, e prefiro apertar o dedo na porta que tomar banho descalço. Não tenho TOC, já fui averiguar com especialistas, pois minhas manias não chegam a ser obsessivas (ou são?). Eu gosto de minhas manias, devo dizer, as acho saudáveis e penso que elas me distinguem neste mar chamado humanidade.

As manias fazem parte do jeito Ney de ser... junto com usar reticências e não saber usar, até hoje, as abreviações internéticas (confesso que não as suporto). Sou o cara que vai morrer acentuando idéia (e todas que perderam descabidamente seus acentos nesta última ultrajante reforma ortográfica) e nunca vai deixar de usar trema (imaginem que o apelido do meu pai é Pingüim, tem como escrever sem trema?), meus filhos e netos vão me achar excêntrico e meus alunos vão ter que ouvir 20 vezes minha opinião sobre esta reforma.

Sendo o Ney que sou, percebo que tenho mudado muito ao logo do tempo, acho que sou melhor (e, sem modéstia, esse adjetivo pode ser usado em várias acepções) hoje que fui ontem; mas preciso matar grande parte de mim, TODOS OS DIAS, para caber dentro do mundo que também melhora. Eu acredito em limitações, mas desafiei muitas, venci algumas e perdi várias. Não sou responsável pela felicidade de ninguém, além da minha mesma, mas só consigo escrever isso e nunca viver.

A tempos descobri o pecado que mais me dói (não crendo em deus, não vejo a acepção da palavra pecado imputada em desobedecer alguma lei divina, entendo como uma debilidade do ser homem, do ser mulher neste mundo): sou um que inveja. Não quero que alguém não tenha algo para que eu tivesse; não lembro-me de pensar nesta vileza, contudo, queria ter uma grama parecida com a do vizinho, que quase sempre me parece mais verde.

Adoro hora marcada, odeio atrasos, sou daqueles que chega antes e se não vou chegar antes me desdobro para avisar e depois sou só culpa. Parafraseando alguém: acho que chegar atrasado é usar de poder; eu evito usar este poder quando o posso e fico irritado quando o usam comigo. Gosto dos prazos, mas sempre que eles são SUMAMENTE importantes, eu não dou conta deles e isso me devasta.

Outro dia eu vi, em algum site neste mundo em rede, bilhetes ou recados deixados por suicídas. Alguns bem tristes, outros com uma pitada irônica "de matar" (não pude evitar)... havia um em que o sujeito foi achado na sala de casa com um tiro na cabeça e o bilhete dizia: perdoe-me pela mancha no tapete. Que filho da puta.

Eu digo a meus mais próximos amigos que se me acharem morto e alguém falar em suicídio, que eles mandem investigar, pois eu acho a vida o reino das possibilidades, acho que viver é a melhor opção. Viver comporta tudo: hoje um lixo, amanhã exultante. Não tenho problemas com a dualidade vida e morte, eu prefiro a vida. Meu problema é com a existência... muitas vezes eu odeio existir, mas isso eu não posso cancelar. Pular de uma ponte ou tomar veneno, vai dar em morte, mas a existência fica, mesmo na idéia, saudades ou lembranças.

Se eu fosse cometer suicídio, eu escreveria um livro pra contar pra mim os motivos, eu não me despediria de ninguém, não deixaria cartas com instruções, ora, o suicídio já é um egoísmo e desespero sem limites, pra que as despedidas. Eu escreveria um livro pra mim, contaria tudo e tentaria descobri onde a vida descaralhou de vez pra eu concluir que precisava morrer e deixar pra trás todas as infinitas possibilidades que o viver comporta.

Mais um dia,

NEY Gomes

26.1.13

Sobre planos para daqui a pouco, ou dá dor de não poder planejar...

Pegar um avião direto pra Santiago... chegando lá, antes mesmo de pensar em como a cidade é linda, buscar um trem, ônibus ou qualquer que seja o meio de transporte, para descer em direção sul. Tentar chegar o mais ao sul possível, na Patagônia chilena ou mesmo, decidir atravessar a fronteira rumo à Terra do Fogo argentina... Olhar para as montanhas, buscar uma conversa entrecortada com alguém, usando todo o resquício de espanhol que me resta. Acordar tarde e, morrendo de frio, tomar um daqueles cafés que invariavelmente queimam a língua.

Depois de alguns dias, subir novamente em direção ao norte do Chile, buscando Santiago, que será só um ponto de partida para lavar algumas roupas e novamente pôr-se em marcha rumo ao deserto do Atacama e depois, rumo a Bolívia. La Paz e sua altitude (suspiros); e depois do litoral peruano, Bogotá, Cartagena, Quito, uma tentativa de Caribe até que, 1 mês depois de chegar a Santiago, chego a Caracas... Esses são os planos que não vou mais fazer...

Adoro saber o daqui a pouco... não sou o tipo de pessoa que esperar surpresas, na verdade, meus amores sabem que não gosto de surpresas. Muitas vezes já pedi que me dissessem o fim de um livro ou de um filme (eu sempre prefiro os finais felizes). Gosto de panejar minha vida, faço listas, arrumo a mala até uma semana antes de viajar e por ai vai. Isso não é sinal de organização, ao contrário, sou uma bagunça de gente... sou dos que esquece horários, pega ônibus errado, minhas listas e minha vontade de planejar, são uma tentativa de não sucumbir ao meus próprio caos.

Hoje estou vomitado (nem quente, nem frio, morno, e portanto, vomitado), não consigo planejar pela insegurança de não dar conta do que tenho de urgente. Queria sair correndo, queria sair pra comprar açaí e não mais voltar (uma carteira de cigarro não seria uma justificativa): mas isso seria o cúmulo do desespero - morar sozinho e deixar um bilhete.

Bem... sabendo-me solitário, vou-me ao encontro de mim mesmo...

22.1.13

Sobre a paralisia que se escolhe...

Antes de mais nada, que fique claro, sou um procrastinador! Sou contumaz nesta arte (palavras bonitas pra um vício devastador). Não aprendo a escolher prioridades, deixo pra última hora, sou capaz de dobrar todas as minhas cuecas e organizá-las por cor, tamanho, marca e tecido, mas não consigo organizar os livros e textos vários que devo ler. Minha capacidade de distração é absurda: que os infernos levem pra longe de mim todas as redes sociais e que o youtube saia do ar.

Sou bom escrevendo (não me julguem por este texto, ou por este blogue - ou o façam com parcimônia), contudo, por motivos que só Freud, ou nem ele, poderia explicar, não escrevo minha dissertação. Penso nas coisas mais variadas, de viagens espaciais à consistência ideal para claras em neve, menos nos argumentos que, dentro de pouco menos de um mês, deverei defender diante de uma banca. Sou capaz de listar todos os países europeus, com suas capitais, mas não faço idéia do que quero concluir com mais de 1 ano de pesquisas.

Antes, digo a menos de 1 semana, o pânico apoderava-se de meu coração e dias negros anunciavam-se, mas agora fui invadido por algum cinismo que, não só ameniza o pânico, embriaga-me com algum tipo de esperança. Não sou capaz, dentro da bagunça que sou, de decidir o que fazer e quando fazer, mas tenho esperança - será isso sinal de alguma loucura latente?

Espero, em breve tempo, ter algo LINDO a dizer, mas por hora, só penso que rezar não é uma possibilidade!


14.1.13

Sobre saber-se machucado e seguir...

Doer faz parte de viver! Viemos ao mundo espremidos, empurrados por gritos de dor, gritamos e vivemos. Nada mais inerente à vida que a boa e hodierna dor. Contudo, não pretendo escrever uma ode à dor, não vou cantar as maravilhas da superação, pouco se me interessa que dores nos fazem crescer (algumas nos matam, assim, pura e simplemente!). Escrevo para falar das dores evitáveis...

Eu tenho duas cartas que jamais li (uma confissão); tenho certeza que o que está posto naquele amarelado papel são ofensas a mim (pois todos temos o santo direito de vez por outra na vida sermos filhos-da-puta, ou as pessoas tem todos o direito de nos achar assim). Essa dor, a dor de ler alguém que tem pouca importância pra mim hoje, mas que teve meu passado em suas mãos, eu evitei. Eu evito todas as que posso, pois a maioria delas, das dores da vida, eu simplesmente não posso fazer a menos que sofrê-las com galhardia, ou desbragadamente aos prantos.

Ninguém jamais conseguiu me esculhambar por telefone (um amor conseguiu gritar comigo, uma vez, ao telefone, mas causou-me um impacto tão grande que desde esse dia jamais consegui vê-la como um amor), é uma dor evitável. Eu não vejo filmes de terror, não olho fotos de não sei quem despedaçado ou dos animais sendo estripados não sei onde pra fazer não sei o que. Pra que, me pergunto, porque?! Não paro o carro diante de um acidente, a menos que minha ajuda seja necessária, não olho da janela um corpo estendido e evito os enterros como o Bolsonaro evita os gays.

Eu sei o que me machuca, o que faz meu espírito (posto que tenha um) estremecer; sei o que me faz M O R R E R (desse jeito, bem devagarinho), e, quando possível, evito estas dores... posso passar por covarde, e até negligênte, mas só eu sei de mim, só eu sei das dores que não sei evitar, daquelas que busco inconscientemente, daquelas que caem em mim sem aviso. Pra dar conta de todas as outras e não ficar insensível, evito as possíveis. E vou...

Agora mesmo, estou naquela fase M O R R E N D O, bem devagarinho, como se cada aspirada de ar que traz a certeza da vida, trouxesse junto punhais de dor. Eu permiti que me machucassem como poucas vezes, estou doendo, mas, deste jeito, com alguns sorrisos a menos, vou seguir!

Sinto dor, logo, existo!

P.S.: Pode ter ficado a pergunta: porque guardar as cartas, se elas não foram lidas? Eu as guardo porque calculo que um dia posso querer, por não ter mais nada pra fazer, sofrer esta dor evitada!

11.1.13

Sobre a possibilidade de listar...


Listar é sempre uma possibilidade, e eis-me no início de 2013, listando ainda...

Não ei de voltar às listas anteriores, não vou dizer do muito que não fiz e nem mesmo ater-me-ei à importância do pouco que dei cabo. A única coisa velha nesta lista será minha intenção.

Para 2013, ano que muito me assusta, seja pelo volume de coisa a fazer, que pela dor das eternas pendências, eu quero o novo! Eu desejo, dentro do mar que tenho dentro de mim, força no mastro e confiança no timão. Desejo que as velas, mesmo desgastadas pelos açoites dos muitos ventos, desejem mais que brisas e não se assustem com tempestades. Desejo ainda, que o lastro seja o costumeiro peso da experiência e que os porões, mesmo escuros, não sejam ocupados pelas mágoas ou pelos arrependimentos. Quero que no convés, olhando confiante para o mastro e as velas, estejam o sucesso e a competência.

Partindo da metáfora, desejo para o bom 2013, sucesso!