29.5.15

Sobre burrice, mau-caratismo e as dores nas relações...

Tenho uma confissão a fazer: a mim mesmo, porque é o perdão mais importante, e a quem algum dia me ler, porque faz parte de meu tempo se importar com as opiniões alheias, por mais alheias que sejam: eu sinto um certo desespero, que me causa alguma dor, de ler ou ouvir algumas pessoas que amo... [pausa para um suspiro profundo].

Parece contraditório que expressões do amor possam ser associadas ao desespero ou mesmo a uma certa raiva. Uma opção, para atenuar o desespero, raiva, seria deixar de amar - mas sou dos que acredita que o amor tudo vence e é maior que raiva e seus congêneres. Outra possibilidade seria, com todo o amor (há um santo da tradição católica que dizia: ama e fazes o que queres), dizer dos motivos; contudo, ainda uma vez, sou dos que acha que se o "problema" é meu, um amor não deve ser incomodado.

Sempre disse, respeito mais o mau-caratismo que a burrice, pode ser que algum dia eu me dê muito mal por conta disso. Mas é fato, burrice tola me aborrece, me causa desespero, perco o respeito pelos argumentos (e em alguns casos, pelo interlocutor). No momento político em que o Brasil se encontra, onde vivemos um derby contínuo entre "coxinhas" e "petralhas", as pessoas, por atacar um ao outro, descaralham em vales de burrice e desonestidade intelectual. Não há a necessidade de checar as fontes, contanto que ela tire sarro da Dilma (em geral de forma machista e desrespeitosa), chame o Lula de ladrão (ou cachaceiro, conspirador etc.), ou associe algum crápula ao PT, dado que a santidade encontra-se no PSDB e no DEM.

Eu vejo pessoas aparentemente inteligentes, formadores de opinião, compartilhando mentiras deslavadas (e fáceis de serem checadas), fazendo um desdobramento intelectual para justificar seus mais profundos preconceitos e comprazendo-se com gente da mais baixa estatura moral. Os colunistas da Veja e apresentadores da Globo News, nas páginas pessoais destas pessoas, converteram-se em oráculos da verdade e da indignação nacional.

Leio associações esquizofrênicas entre o direito às cotas ou ao bolsa família (sim, amigos brancos e classe média, as cotas e bolsa família são direitos), à formação de milicias supostamente esquerdistas; um programa que levou médicos onde "nunca antes na história deste país" outros médicos, brasileiros, quiseram trabalhar foi atacado de forma vergonhosa -  e a maior vergonha foi a falta completa de proposta para sanar o problema da falta de médicos.

Nós vivemos a era da informação, não é possível que alguém, com o mínimo de discernimento intelectual, consiga continuar a justificar suas opiniões, e posições, políticas só lendo compartilhamentos das matérias da veja, globo e folha no facebook.

Sou um otimista, realmente creio que meu pai viveu em um mundo melhor que meu avô, acredito viver num mundo melhor que o de meu pai e quero trabalhar para que meus filhos, quando os tiver, vivam num mundo melhor que o meu. Penso que as pessoas de minha geração devem ter um anseio semelhante! Mas como fazer disso algo além de uma utopia, quando a mentira e a desinformação são, não só encorajadas, como louvadas, dado que o objetivo é escolher um inimigo e destruí-lo?

As vezes bate um desânimo, mas vou seguir, porque quem não segue, volta!