20.4.10

Sobre uma forma de amar...



Te amo!


Te amo com dor, te amo assim, com pronome ante do verbo e no início da frase, pois te amar não é certo.

Te amo como quem ama respirar, por que disso depende pra viver.

Te amo bem humanamente, sem nada de divino ou sobre-natural, te amo egoíticamente e não saberia dizer: "por que te amo te deixo ir"; definitivamente não, te amo como parte de mim.
Te amo com dor, com calor, com lágrimas e horror, com drama, sem rimas, doentiamente, superlativamente.

Te amo mais que a mim mesmo, e por isso, DOR.

Te amo, mas não te quero amar, te amo sem controle, sem pudores, de dando meu corpo, minha alma, se tivesse uma, seria tua, como tua é já toda a minha vontade.

Te amo ao desespero.

O pior do amor que sinto por ti e minha consciência do quão fora de controle ele o é.
O pior poderia ser a dor de saber não ser correspondido, mas como eu disse, sou louco e grito a insensata bravata do "eu amo por nós dois".

Tu és mina dor, e por isso, meu amor.

12.4.10

Sobre o Fernando...


Para falar do Fernando eu preciso admitir algumas coisas bem pessoais; preciso dizer que não acredito no sobrenatural - inclua nesta descrença milagres de todas as sortes ou intervenções mágicas depois de preces; preciso dizer que não tenho medo de dentista; sou social-democrata por conveniência - e anarquista por convicção; não sou um otimista nato e vejo filmes "liiindos"!

O meu amigo Fernando acredita no "se deus quiser" (e eu acredito no Fernando!), logo, ele crê no sobrenatural; o Fernando é um dentista que pode meter medo; nunca vi meu amigo discutir política e duvido muito que seja um assunto que lhe esteja no coração; o Fernando não é um otimista, ao menos naquilo que percebo dele, mas seu pragmatismo é sempre OTIMISTA e para o Fernando se um filme for descrito como "liiindo", ele possívelmente não merece ser visto, filme bom tem que ter explosão, efeitos e aventura.

Não somos parecidos e temos bem poucas coisas em comum, mas temos uma coisa que nos basta: somos amigos! Somos amigos e acreditamos um no outro e torcemos por cada uma das nossas escolhas. O Fernando não é gente fácil, mas tem aquela gentileza que falta à maioria. O Fernando nem sempre disse sim a todas as minhas idéias, na verdade se bem me lembro, ele disse mais não's que sim's, mas não tenho dúvidas da disposição de alma dele em fazer de tudo para que eu obtenha sucesso, e se chegar o árido vento do fracasso, não será dele a risada do "eu não te disse?", mas as palavras do "estou aqui pro que der e vier".

Em fim, o Fernando é meu amigo, assim como o é de outros, e constitui aquela parcela da humanidade pela qual eu morreria, por que valeria a pena. Em verdade, vale a pena ter amigos como o Fernando e vale mais ainda fazer-se amigo de alguém como ele.

Sobre mutatis mutandis

Acho a palavra, das invenções humanas, a mais fascinante. Há palavras, expressões, que são bonitas e interessantes, mesmo que seu significado não seja proporcional ao fascínio que elas me provocam. Há expressões que são sedutoras, nos levam a enveredar por mundos que só parem conhecidos, mas que não o são de verdade. Contudo, as palavras podem, na mesma medida do seu fascínio, serem traiçoeiras.

A natureza do acaso produziu, em tempos diversos, pródigos domadores de palavras. Pensando nos círculos do inferno dantesco ou nas aventuras do viandante cavaleiro de Cervantes, imaginando as ruas de Macondo e as peripécias do cigano Melquíades na saga dos Buendías, passeando pelas florestas mágicas da Terra Média ou sofrendo com o fim do amor de Júlia e Smith; sinto uma comoção interna com a forma que foram dobradas as palavras para se renderem às descrições necessárias por estes autores.

Há frases que são condições sine qua non (e o que dizer do plural - Sine quibus non) para que meu interesse por um texto seja despertado. Adoro ler os que sabem jogar com as palavras, dar-lhes uso pleno ou um uso sui generis! Há frases e expressões na literatura que eu gostaria muito de ter sido o autor: quando Machado qualifica o olho de Capitu (e por isso seu olhar) como sendo "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" e ainda "olhos de ressaca", fico horas a devanear sobre esse olhos de Capitu, e pior, tenho a nítida impressão de compreender o que quer dizer.

Eu passaria horas relembrando frases que marcaram minha vida literária, momentos de puro prazer estético e deleite dos mais sublimes. Mas não é esse meu objetivo, gosto de alguns prazeres no conforto da minha privavidade, e esse gozo o guardo pra mim. Mas, mutatis mutandis (eu pensei que não conseguiria usar mais esse latinismo), tem uma frase que traduz tão bem minha fase atual, que mesmo não sendo minha, reclamo sua autoria provisória: "Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara". A Frase é de Wilde, mas bem que poderia ser minha, vocês não acham???

1.4.10

Sobre a hora certa...

Ele não morreu por que ainda não era a hora! Eles se conheceram na hora certa! Já era hora disso acontecer... Essas frases sempre me chamaram atenção, menos pelo significado mágico e mais pelo absurdo da proposição; mas será que há uma hora certa pra tudo na vida... é possível que sejamos condicionados por um tempo mágico sobre o qual não temos qualquer controle... e se há uma hora certa, como identificá-la... só será a hora certa se as coisas dão certo... é possível uma coisa feita na hora certa dar errado... e sobre a hora errada... ela é errada por que mesmo? e quando chegamos atrasados à hora certa, ela vira errada?

Essa nuvem de interrogações e reticências caíram sobre mim neste período depois de muito ouvir de meus amigos , que minha hora não chegou - só temo que ela tenha passado e que seja igual ao Cometa Halley que só passa uma vez a cada 76 anos.

Continuo sem entender direito essa coisa de hora certa, mesmo se o conceito é bem fácil: para tudo na vida tem um tempo!

Outro diz falei sobre a competência de viver e disse que essa competência tem tudo que ver com a capacidade de bem escolher, neste caso, adiciono: a competência de viver tem também que ver com a sensibilidade de perceber a hora certa para cada coisa. Digo, sem contudo crer!

Incluo-me na categoria daqueles que acredita que a vida seja um acidente, poderíamos ser nada menos que bactérias navegando em um oceano cheio de sais, ao invés, somos primatas metidos a besta que dominamos o mundo. Acredito que no fim das contas, fazemos a hora, estabelecemos os prazos de nossas vidas. Alguns, e me incluo, são exímios postergadores, alguns tem o vício da procrastinação... para esses, infelizes que são, há que se ter a condescendência de fazer crer em um tempo que há de chegar, em um momento, que não obstante a sua natureza displicente, as coisas hão de acontecer.

Mas esta espera acarreta uma perda absurda de energia.

Não creio na hora certa, mas bem que ela poderia ser amanhã!