12.4.10

Sobre mutatis mutandis

Acho a palavra, das invenções humanas, a mais fascinante. Há palavras, expressões, que são bonitas e interessantes, mesmo que seu significado não seja proporcional ao fascínio que elas me provocam. Há expressões que são sedutoras, nos levam a enveredar por mundos que só parem conhecidos, mas que não o são de verdade. Contudo, as palavras podem, na mesma medida do seu fascínio, serem traiçoeiras.

A natureza do acaso produziu, em tempos diversos, pródigos domadores de palavras. Pensando nos círculos do inferno dantesco ou nas aventuras do viandante cavaleiro de Cervantes, imaginando as ruas de Macondo e as peripécias do cigano Melquíades na saga dos Buendías, passeando pelas florestas mágicas da Terra Média ou sofrendo com o fim do amor de Júlia e Smith; sinto uma comoção interna com a forma que foram dobradas as palavras para se renderem às descrições necessárias por estes autores.

Há frases que são condições sine qua non (e o que dizer do plural - Sine quibus non) para que meu interesse por um texto seja despertado. Adoro ler os que sabem jogar com as palavras, dar-lhes uso pleno ou um uso sui generis! Há frases e expressões na literatura que eu gostaria muito de ter sido o autor: quando Machado qualifica o olho de Capitu (e por isso seu olhar) como sendo "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" e ainda "olhos de ressaca", fico horas a devanear sobre esse olhos de Capitu, e pior, tenho a nítida impressão de compreender o que quer dizer.

Eu passaria horas relembrando frases que marcaram minha vida literária, momentos de puro prazer estético e deleite dos mais sublimes. Mas não é esse meu objetivo, gosto de alguns prazeres no conforto da minha privavidade, e esse gozo o guardo pra mim. Mas, mutatis mutandis (eu pensei que não conseguiria usar mais esse latinismo), tem uma frase que traduz tão bem minha fase atual, que mesmo não sendo minha, reclamo sua autoria provisória: "Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara". A Frase é de Wilde, mas bem que poderia ser minha, vocês não acham???

Um comentário:

  1. Wilde... [pensando]

    Há palavras e frases, que marcam ou ferem a alma de qualquer morta sensível ao mundo dos sentimentos, e isso é um fato notório ao meu ver...

    Wilde... [pensando]

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Escreve ai vai!!!