6.11.07
Brincadeira - Tchekhov
- Deslizemos até embaixo, Nadêjda Petrovna! - imploro eu. - Só uma vez! Garanto-lhe, ficaremos sãos e salvos!
Mas Nádenka tem medo. Toda essa extensão, desde as suas pequeninas galochas até o fim da montanha de gelo, se lhe afigura como um terrível abismo de profundidade imensurável. Ela fica tonta e perde o fôlego. Só de olhar lá para baixo, quando eu apenas lhe proponho sentar-se no trenó - que terá então se ela arriscar despenhar-se no precipício? Ela morrerá, enlouquecerá!
- Eu lhe suplico! - digo eu. – Não tenha medo! Compreenda, isso é fraqueza, é covardia!
Nádenka cede, finalmente, e eu vejo pelo seu rosto que ela cede com perigo da própria vida. Acomodo-a, pálida e trêmula, no trenó, sento-me, enlaço-a com o braço e junto com ela precipito-me no abismo.
O trenó voa como uma bala. O ar cortado chicoteia o rosto, silva nos ouvidos, bate, belisca raivoso, até doer, quer arrancar a cabeça dos ombros. A pressão do vento tolhe a respiração. É como se o próprio diabo nos tivesse agarrado com as suas patas, e, urrando, nos arrastasse para o inferno. Os objetos que nos cercam fundem-se num só longo risco, que corre vertiginoso. Parece, um instante mais, e estaremos perdidos!
- Eu te amo, Nádia! - digo eu a meia voz.
O trenó começa a deslizar mais devagar, mais devagar, os uivos do vento e os zumbidos das lâminas do trenó já não são tão terríveis, a respiração já não é tão ofegante, e, finalmente, chegamos ao fim. Nádenka está mais morta do que viva. Está pálida, mal consegue respirar... Eu a ajudo a levantar-se.
- Nunca mais farei isto - diz ela, encarando-me com os olhos dilatados, cheios de terror. - Por coisa alguma do mundo! Por pouco não morri!
Logo depois, ela volta a si e já me fita com um olhar interrogador: terei sido eu quem disse aquelas quatro palavras, ou foi apenas uma alucinação dentro do zunido da ventania? Mas eu estou calado diante dela, fumando e examinando com atenção a minha luva.
Ela toma o meu braço e passeamos longos minutos diante do morro. O problema, visivelmente, não a deixa em paz. Foram pronunciadas aquelas palavras, ou não? Sim ou não? Sim ou não? É uma questão de amor-próprio, de honra, de vida, de felicidade, uma questão muito importante, a mais importante do mundo. Nádenka perscruta o meu rosto com olhares impacientes, tristes, penetrantes, responde atabalhoadamente, espera que eu fale. Oh, que jogo de emoções neste rosto encantador, que jogo! Vejo que ela luta consigo mesma, que precisa dizer alguma coisa, perguntar, mas não encontra palavras, está encabulada, amedrontada, embargada pela alegria...
- Sabe duma coisa? – diz ela, sem olhar para mim.
- O quê? – pergunto eu.
- Vamos mais uma vez... deslizar pelo morro.
Subimos para o cume, pela escada. De novo faço Nádenka, pálida e trêmula, sentar no trenó, de novo nos despencamos no precipício medonho, de novo uiva o vento e zunem as lâminas, e de novo, quando o vôo do trenó está no auge do ímpeto e da zoeira, eu digo a meia voz:
- Eu te amo, Nádenka!
Quando o trenó se detém, Nádenka lança um olhar para o morro que acabamos de descer voando, depois perscruta longamente o meu rosto, escuta, atenta, a minha voz indiferente e calma, e toda ela, toda, até mesmo o regalo de peles e o capuz, toda a sua figurinha, exprime extrema perplexidade. E no seu rosto está escrito:
“Mas o que é que está acontecendo? Quem pronunciou aquelas palavras? Foi ele, ou foi engano dos meus ouvidos?”
Esta incerteza a perturba, a impacienta. A pobre menina não responde às minhas perguntas, franze a testa, está prestes a romper em choro.
- Não preferes ir para casa? – pergunto eu.
- Mas eu... eu gosto destas... descidas – diz ela, enrubescendo. Não quer deslizar mais uma vez?
Ela “gosta” destas descidas, e no entanto, sentando-se no trenó, ela, como das outras vezes, fica pálida, ofegante de medo, trêmula.
Descemos pela terceira vez, e eu vejo como ela fita o meu rosto, como observa os meus lábios. Mas eu aperto o lenço contra a boca, tusso, e quando chegamos ao meio do declive, deixo escapar:
- Eu te amo, Nádia!
E a charada continua charada! Nádenka se cala, está pensando... Acompanho-a para casa, ela procura andar mais devagar, atrasa o passo, espera sempre que eu lhe diga aquelas palavras. E eu vejo como sofre sua alma, como ela tem que se esforçar para não dizer:
“Não pode ser que tenha sido o vento! E eu não quero que tenha sido o vento quem falou aquilo!”
No dia seguinte de manhã, recebo um bilhetinho: “Se o senhor vai ao morro hoje, venha me buscar. N.” E desde essa manhã, comecei a ir com Nádenka ao morro, todos os dias e, voando encosta abaixo, no trenó, eu pronuncio, cada vez, a meia voz, as mesmas palavras:
- Eu te amo, Nádia!
Logo Nádenka acostuma-se a esta frase, como ao vinho e à morfina. Não pode viver sem ela. É verdade eu voar montanha abaixo lhe dá medo, como antes, mas já agora o medo e o perigo adicionam um encanto especial às palavras sobre o amor, as palavras que, como dantes, constituem uma charada e oprimem a alma. São sempre os mesmos dois suspeitos: eu e o vento... Qual dos dois lhe declara o seu amor, ela não sabe, mas, ao que parece, isto já não lhe importa mais; não importa o vaso em que se bebe, importa ficar embriagada!
Um dia, fui até o morro sozinho; misturei-me à multidão e vejo como Nádenka chega até o sopé, como me procura com os olhos... E depois, timidamente, ela sobe os degraus... Ela tem medo de ir sozinha, oh, quanto medo! Está pálida como a neve, treme e vai, como se fosse para o cadafalso, mas vai, vai sem olhar para trás, com decisão. Pelo visto, ela resolveu, finalmente, tirar a prova: será que se farão ouvir aquelas palavras estranhas, quando eu não estiver junto? E vejo como ela, lívida, com a boca entreaberta de horror, toma assento no trenó, fecha os olhos, e, despedindo-se para sempre do mundo, o põe em movimento... “zzzzzz..." zunem as lâminas. Ouvira Nádenka aquelas palavras? Não sei... Vejo apenas como ela se levanta do trenó, exausta, fraca. E vê-se pelo seu rosto que nem ela mesma sabe se ouviu alguma coisa ou não. O pavor, enquanto ela voava morro abaixo, roubou-lhe a capacidade de ouvir, de distinguir os sons, de entender...
Mas eis que chega o mês de março, primaveril... O sol torna-se mais carinhoso. O nosso morro de gelo escurece, perde o seu brilho e se derrete, afinal. Acabaram os passeios de trenó. A pobre Nádenka já não tem mais onde ouvir aquelas palavras, e nem há quem as pronuncie, pois o vento não se ouve mais, e eu me preparo para voltar a Petersburgo - por muito tempo, quiçá para sempre.
Uma vez, pouco antes de partir, uns dois dias, estava eu sentado, ao crepúsculo, no jardinzinho, separado do pátio onde mora Nádenka por uma cerca alta de madeira. Ainda faz bastante frio, debaixo do lixo, ainda há neve, as árvores ainda estão mortas, mas já cheira à primavera, e, preparando-se para a noitada, as gralhas fazem grande algazarra. Aproximo-me da cerca e espio pela fresta. E vejo como Nádenka sai para os degraus e fixa o olhar tristonho e saudoso no firmamento... O vento da tarde sopra-lhe no rosto pálido e desanimado... Ele lembra-lhe aquele outro vento, que uivava lá no morro, quando ela ouvia aquelas quatro palavras, e seu rosto fica triste, triste, e pela face desliza uma lágrima... E a pobre menina estende os braços, como se implorando ao vento que lhe traga aquelas palavras mais uma vez. E eu, esperando o vento favorável, sopro a meia voz:
- Eu te amo, Nádia!
Deus meu, o que se passa com Nádenka! Ela solta um grito, sorri com o rosto inteiro e estende os braços ao encontro do vento, risonha, feliz, tão bonita.
E eu vou arrumar as malas...
Isto foi há muito tempo. Agora, Nádenka já é casada; casaram-na, ou foi ela mesma que quis - isto não importa - com um secretário da Curadoria, e hoje ela já tem três filhos. Mas os nossos passeios no morro e a voz do vento trazendo-lhe as palavras "eu te amo, Nádenka", não foram esquecidos. Para ela, isto é hoje a mais feliz, a mais comovedora e a mais bela recordação da sua vida...
Mas eu, hoje, que estou mais velho, já não compreendo mais, para que dizia aquelas palavras, porque brincava...
Tradução de Tatiana Belinky.
21.10.07
Muito além do Arco-íris
Somewhere Over The Rainbow
Somewhere Over the Rainbow
Em algum lugar além do arco-íris
Way up high
Lá no alto
There's a land that I heard once
Há um lugar do qual ouvi falar uma vez
In a lullaby
Em uma canção de ninar
Somewhere over the rainbow
Em algum lugar além do arco-íris
Skies are blue
O céu é azul
And the dreams that you dare to dream
E os sonhos que você ousa sonhar
Really do come true
Se realizam de verdade
Someday I'll wish upon a star
Um dia vou fazer um desejo para uma estrela
To wake up where the clouds are far behind me
Acordar onde as nuvens estão bem atrás de mim
Where troubles melt like a lemon drops
Onde os problemas se derretem como uma gota de limão
Where you cross the chimney tops
Onde você ultrapassa o alto das chaminés
That's where you'll find me
É lá que você vai me encontrar
Somewhere over the rainbow
Em algum lugar além do arco-íris
Bluebirds fly
Passaros azuis voam
Birds fly over the rainbow
Pássaros voam sobre o arco-íris
Why, then, oh, why can't I?
Porque, então, porque eu não posso?
12.8.07
Esse, por enquanto, sou eu...
Estou mudando muito rapidamente, às vezes não reconheço minha imagem refletida no espelho, aqueles olhos não são os meus, estão mais ávidos e assustam. Acho que deve ser o aquecimento global, ou quem sabe a estupidez tomou todo o lugar antes ocupado pela fé.
Estou agudo, e antes fui demasiado tônico. Sempre fui confiável e, por isso mesmo, afável, mas hoje sou mais eu; não vou mais sustentar a lenda de que sou um cavalheiro andante que, honrado e amigo, sempre busca a felicidade dos que o cercam em detrimento da própria, não, definitivamente deixei a lenda pra traz e hoje vou, caminhando pelo mundo como um simples “Ney” e, encontrando-me pelas ruas, não troquem de calçada, estendam as mãos, eu os saudarei com o coração sincero dos culpados e arrependidos.
Quero amigos, mas quero antes de tudo, manter amores de ontem com as verdades de hoje. Fiquei por muitas vezes lisonjeado porque diziam que eu parecia este ou aquele, mas eu acharia lisonja maior ser comparado a mim mesmo, um simples, pois... bem... vou deixar as elucubrações, vou ser menos retórico e vou deixar esta terra sendo eu, simples e largado à sorte dos sem fé e sem glória... é... hoje estou assim...
10.4.07
AMIGOS...
Poucas coisas na vida importam... mas amar e deixar-se amar é fundamental para uma vida próxima da felicidade... ter amigos é essencial, e que eles saibam que são amados, o amor não comporta dúvidas... sorrir, bem, sorrir é um exercício maravilhosos; não que chorar seja ruim, mas cuidado com os motivos que o levam, seja ao riso que ao choro... O poeta já disse: teus braços foram feitos para abraçar, não existe entrega mais imediata que um bom e forte abraço...
E nisso tudo... seja sempre sincero... mesmo sua desonestidade tem que vir com a sinceridade dos que amam...
EU VOS AMO...
21.3.07
Um amor meu...
Un amore, perché io lo chiame di mio...
Só tem que me amar, não louca ou cegamente,
Bisogna soltanto amarmi, non pazza e cecamente,
Mas sincera e apaixonadamente;
Ma sincera ed appassionatamente;
Tem que ter riso fácil, alegria espontânea, que vem da alma;
Bisogna avere riso facile, gioia espontanea; que sorge dell’anima;
Tem que saber perder, mas tem que querer ganhar
Bisogna sapere perdere, ma bisogna voler vincere
(nem no amor a mediocridade é permitida – que ela chegue sem convite);
(neanche nell’amore la mediocrità ci è permessa – che lei arrivi senza l’invito);
Deve comprazer-se com o belo,
Bisogna compiacersi con il bello,
A beleza é a essência de todo amor,
La bellezza è l’esenza dell’amore,
(mas precisa respeitar e reconhecer o propósito de tudo);
(ma bisogna respettare e riconoscere il proposito di tutto);
Um amor pra eu chamar de meu,
Un amore perché io lo chiame di mio,
Tem que saber olhar nos olhos e ver reflexos da alma;
Bisogna sapere guardare negli occhi e vedere i riflessi dell’anima;
Ma per esse mio veramente, bisogna soltanto voler...
Depois venha abraçar-me,
Dopo venga ad abbracciarmi,
Serei teu também.
Sarei tuo.
Ney Gomes – in una fase dove gli amore devono essere spiegati.
19.3.07
EU...
Continuo um inveterado sonhador, mas agora tenho menos paciência.
Quero mais que uma casa no campo, ou um milhão de amigos, quero a TRANQUILIDADE de uma vida não infeliz.
Passar-me-ão os dias e eu continuarei mudando, na verdade, mudar esta virando um esporte, e neste eu marco muitos pontos. Recentemente alguém passou por minhas defesas e destruiu meus muros, decidir não reerguê-los, isso me apavora, mas a Brisa é muito boa... Meu Deus eu adoro a brisa da liberdade, ele vem vindo sempre com o cheiro inconfundível do medo, mas seu toque em minha face, agora desafiadora, é uma sensação idílica.
Agora estou sem muros, e minhas defesas estão frágeis, mas lutarei por compartilhar, quero não ser saqueado...
Mas continuo respondendo às perguntas... mas você realmente quer saber?!?!?