22.11.16

Sobre pretender continuar otimista...

Gosto de me definir um otimista, ao menos no geral! Sempre digo que acredito que o mundo está melhorando, ao contrário do que nos querem fazer crer a difusão das informações. Tendo esta premissa, ando me perguntando, nesta noite escuro em que se têm convertido os meus dias, como suplantar a enxurrada de negatividade que tem devastado os frontes progressistas, aqui no Brasil e alhures?

2016, de trás pra frente, significou um avanço do pensamento conservador dappertutto. Não acho que os avanços sociais do passado recente foram uma “concessão da direita”, como defendem alguns, e que agora ela só está retomando o poder, que sempre lhe pertenceu. Acho que as esquerdas precisam virar “a esquerda”, e hoje tenho mais preguiça da extrema esquerda/anarquista, que defende utopicamente a destruição do Estado, agora, do que da extrema direita, que em geral é muito burra.

Voltando ao tema do otimismo, eu continuo crendo que, não obstante as atrocidades do EI ou a eleição do Trump, vivemos tempos melhores. Nossa expectativa de vida continua aumentando, mais pessoas ganham acesso à educação, debelamos a maior parte das doenças que assombravam nossos antepassados (mesmo se criamos outras tantas) e, a sensação de liberdade, como nunca antes na história, é mais abrangente. Um simples estudo que se debruce sobre a história medieval, vai mostrar um mundo bem mais assustador.

Mas, e isso tem despertado minha inquietação, porque os meios de comunicação e diversos pensadores contemporâneos, nos querem levar às margens do desespero? Porque o catastrofismo virou linguagem corrente?

Amigos gays têm-se queixado que aumentou a intolerância e o preconceito... e eu fico absurdado com essa afirmativa: hoje podemos casar, declarar nossos companheiros no imposto de renda, andar de mãos dadas etc. Muitos vão alegar que estou falando sobre uma realidade de poucos e eu só vou fazer notar, que a menos de 20 anos, era uma realidade de ninguém. Óbvio que existem Bolsonaros, mas eles sempre existiram, o detalhe é que agora temos a possibilidade de um Jean Willys (alguém imagina um deputado abertamente gay ser eleito a 50 anos atrás?).

Amigos negros se queixam de um recrudescimento do racismo... e eu argumento que hoje há leis que punem os racistas, há políticas afirmativas, há visibilidade (que precisa aumentar, mas ainda assim é MUITO superior ao que já foi um dia). Eu sei que nesta seara as estatísticas são acachapantes, sei que só de olhar uma cena que mostre cadeias ou favelas, iremos vislumbrar navios negreiros, contudo, vendo ao meu redor tantas negras e negros, irmãs, debatendo e erguendo a voz, sei que um racista precisa pensar duas vezes antes de proferir impropérios, e se não pensar, nossas vozes vão fazê-lo amofinar.

Se penso que mulheres não votavam até a primeira metade do século passado, e hoje temos uma ex-presidenta, duas vezes eleita, não posso que ter certeza que as mulheres não se calaram mais... é daqui para a frente, e nunca para o passado. Aqui também os números admoestam cautela, mas ainda assim não há que se dizer que tem piorado.

No cenário que tento construir no mundinho particular que é minha cabeça, onde eu pretendo permanecer otimista, só uma coisa não faz sentido (muitas não fazem, mas...). Como pode alguém desta geração (estou imaginando pessoas de até 40 anos) se definir conservador? Ouvi parte do discurso de um dos fundadores de um dos movimentos que se empenhou pela saída golpista da presidenta Dilma e ele se dizia conservador de direita, e o cara não parece ter mais que 25 anos. Paralelo a isso, tenho amigos, pessoas contemporâneas a mim, que também se definem como conservadores... e eu me interrogo, C O M O P O D E? É de um estrabismo histórico que assusta...


Até o mais displicente estudante de história, fazendo um esforço por combater o anacronismo, um dos pecados capitais da disciplina, sente um pouco de vergonha alheia, para usar um termo corrente, e até pesar, quando pensa no que significaram para o desenvolvimento da sociedade contemporânea o pensamento conservador... eram conservadores que bradavam, no fim do século XIX, contra o ataque à propriedade privada que significaria a libertação dos escravizados; também conservadores que, já no primeiro quartel do século XX, não admitiam o voto feminino; e ainda uma vez, são conservadores os que acham que pessoas do mesmo sexo não podem se casar em pleno século XXI. Sentimos pesar e vergonha pelos conservadores do passado e sentiremos o mesmo pelos conservadores de hoje. Mas, apesar deles, dos conservadores, iremos adiante com nossas conquistas.

29.5.15

Sobre burrice, mau-caratismo e as dores nas relações...

Tenho uma confissão a fazer: a mim mesmo, porque é o perdão mais importante, e a quem algum dia me ler, porque faz parte de meu tempo se importar com as opiniões alheias, por mais alheias que sejam: eu sinto um certo desespero, que me causa alguma dor, de ler ou ouvir algumas pessoas que amo... [pausa para um suspiro profundo].

Parece contraditório que expressões do amor possam ser associadas ao desespero ou mesmo a uma certa raiva. Uma opção, para atenuar o desespero, raiva, seria deixar de amar - mas sou dos que acredita que o amor tudo vence e é maior que raiva e seus congêneres. Outra possibilidade seria, com todo o amor (há um santo da tradição católica que dizia: ama e fazes o que queres), dizer dos motivos; contudo, ainda uma vez, sou dos que acha que se o "problema" é meu, um amor não deve ser incomodado.

Sempre disse, respeito mais o mau-caratismo que a burrice, pode ser que algum dia eu me dê muito mal por conta disso. Mas é fato, burrice tola me aborrece, me causa desespero, perco o respeito pelos argumentos (e em alguns casos, pelo interlocutor). No momento político em que o Brasil se encontra, onde vivemos um derby contínuo entre "coxinhas" e "petralhas", as pessoas, por atacar um ao outro, descaralham em vales de burrice e desonestidade intelectual. Não há a necessidade de checar as fontes, contanto que ela tire sarro da Dilma (em geral de forma machista e desrespeitosa), chame o Lula de ladrão (ou cachaceiro, conspirador etc.), ou associe algum crápula ao PT, dado que a santidade encontra-se no PSDB e no DEM.

Eu vejo pessoas aparentemente inteligentes, formadores de opinião, compartilhando mentiras deslavadas (e fáceis de serem checadas), fazendo um desdobramento intelectual para justificar seus mais profundos preconceitos e comprazendo-se com gente da mais baixa estatura moral. Os colunistas da Veja e apresentadores da Globo News, nas páginas pessoais destas pessoas, converteram-se em oráculos da verdade e da indignação nacional.

Leio associações esquizofrênicas entre o direito às cotas ou ao bolsa família (sim, amigos brancos e classe média, as cotas e bolsa família são direitos), à formação de milicias supostamente esquerdistas; um programa que levou médicos onde "nunca antes na história deste país" outros médicos, brasileiros, quiseram trabalhar foi atacado de forma vergonhosa -  e a maior vergonha foi a falta completa de proposta para sanar o problema da falta de médicos.

Nós vivemos a era da informação, não é possível que alguém, com o mínimo de discernimento intelectual, consiga continuar a justificar suas opiniões, e posições, políticas só lendo compartilhamentos das matérias da veja, globo e folha no facebook.

Sou um otimista, realmente creio que meu pai viveu em um mundo melhor que meu avô, acredito viver num mundo melhor que o de meu pai e quero trabalhar para que meus filhos, quando os tiver, vivam num mundo melhor que o meu. Penso que as pessoas de minha geração devem ter um anseio semelhante! Mas como fazer disso algo além de uma utopia, quando a mentira e a desinformação são, não só encorajadas, como louvadas, dado que o objetivo é escolher um inimigo e destruí-lo?

As vezes bate um desânimo, mas vou seguir, porque quem não segue, volta!

12.3.13

Sobre surpresas e ser menos nós mesmo...

Eu programo a vida, eu programo o dia, as horas... mesmo não seguindo a maioria daquilo que programo, eu sou daqueles que tem a pretensão de imaginar sempre onde vai estar e o que vai estar fazendo. Sigo um rigorosíssimo código de conduta, que só existe na minha cabeça, que foi forjado por anos imerso em uma cultura machista e cristã (quem sabe um dia terei culhão pra escrever sobre isso). Não gosto de surpresas (meus amigos sabem disso) e fico meio contrariado, as vezes desestruturado, quando muitas coisas não previstas começam a acontecer.

Essa premissa toda pra dizer que tenho trabalhado para mudar. Tenho me surpreendido com as surpresas. Agora mesmo estou vivendo uma surpresa que tem me deixado inquieto, ofegante e com o coração em constante arritmia... em outros tempo, eu já teria estragado tudo por conta dos planos para "daqui a pouco", já teria perguntado que nomes daremos aos nossos filhos ou quais as músicas que ele quer no casamento; mas estou sendo um pouco menos eu e me acostumando com a adrenalina das muitas surpresas...

Não posso dizer que gosto de todas, na verdade - deixa pra lá! Mas tenho gostado de olhar pra mim mesmo dizendo "permita-se". Arriscar me deixa inseguro...

25.2.13

Sobre manias, o mais e o menos, prazos e cartas de suicídio

Sou um homem cheio de manias, sou daqueles que esvazia a mochila todos os dias e repõe as coisas depois a noite para que na manhã seguinte esteja tudo pronto. Odeio pegar em maçanetas de banheiros públicos, sou capaz, caso não tenha papel, de ficar na porta esperando que alguém a abra do lado de fora. Tenho asco de chão de banheiros, mesmo os de casa, e prefiro apertar o dedo na porta que tomar banho descalço. Não tenho TOC, já fui averiguar com especialistas, pois minhas manias não chegam a ser obsessivas (ou são?). Eu gosto de minhas manias, devo dizer, as acho saudáveis e penso que elas me distinguem neste mar chamado humanidade.

As manias fazem parte do jeito Ney de ser... junto com usar reticências e não saber usar, até hoje, as abreviações internéticas (confesso que não as suporto). Sou o cara que vai morrer acentuando idéia (e todas que perderam descabidamente seus acentos nesta última ultrajante reforma ortográfica) e nunca vai deixar de usar trema (imaginem que o apelido do meu pai é Pingüim, tem como escrever sem trema?), meus filhos e netos vão me achar excêntrico e meus alunos vão ter que ouvir 20 vezes minha opinião sobre esta reforma.

Sendo o Ney que sou, percebo que tenho mudado muito ao logo do tempo, acho que sou melhor (e, sem modéstia, esse adjetivo pode ser usado em várias acepções) hoje que fui ontem; mas preciso matar grande parte de mim, TODOS OS DIAS, para caber dentro do mundo que também melhora. Eu acredito em limitações, mas desafiei muitas, venci algumas e perdi várias. Não sou responsável pela felicidade de ninguém, além da minha mesma, mas só consigo escrever isso e nunca viver.

A tempos descobri o pecado que mais me dói (não crendo em deus, não vejo a acepção da palavra pecado imputada em desobedecer alguma lei divina, entendo como uma debilidade do ser homem, do ser mulher neste mundo): sou um que inveja. Não quero que alguém não tenha algo para que eu tivesse; não lembro-me de pensar nesta vileza, contudo, queria ter uma grama parecida com a do vizinho, que quase sempre me parece mais verde.

Adoro hora marcada, odeio atrasos, sou daqueles que chega antes e se não vou chegar antes me desdobro para avisar e depois sou só culpa. Parafraseando alguém: acho que chegar atrasado é usar de poder; eu evito usar este poder quando o posso e fico irritado quando o usam comigo. Gosto dos prazos, mas sempre que eles são SUMAMENTE importantes, eu não dou conta deles e isso me devasta.

Outro dia eu vi, em algum site neste mundo em rede, bilhetes ou recados deixados por suicídas. Alguns bem tristes, outros com uma pitada irônica "de matar" (não pude evitar)... havia um em que o sujeito foi achado na sala de casa com um tiro na cabeça e o bilhete dizia: perdoe-me pela mancha no tapete. Que filho da puta.

Eu digo a meus mais próximos amigos que se me acharem morto e alguém falar em suicídio, que eles mandem investigar, pois eu acho a vida o reino das possibilidades, acho que viver é a melhor opção. Viver comporta tudo: hoje um lixo, amanhã exultante. Não tenho problemas com a dualidade vida e morte, eu prefiro a vida. Meu problema é com a existência... muitas vezes eu odeio existir, mas isso eu não posso cancelar. Pular de uma ponte ou tomar veneno, vai dar em morte, mas a existência fica, mesmo na idéia, saudades ou lembranças.

Se eu fosse cometer suicídio, eu escreveria um livro pra contar pra mim os motivos, eu não me despediria de ninguém, não deixaria cartas com instruções, ora, o suicídio já é um egoísmo e desespero sem limites, pra que as despedidas. Eu escreveria um livro pra mim, contaria tudo e tentaria descobri onde a vida descaralhou de vez pra eu concluir que precisava morrer e deixar pra trás todas as infinitas possibilidades que o viver comporta.

Mais um dia,

NEY Gomes

26.1.13

Sobre planos para daqui a pouco, ou dá dor de não poder planejar...

Pegar um avião direto pra Santiago... chegando lá, antes mesmo de pensar em como a cidade é linda, buscar um trem, ônibus ou qualquer que seja o meio de transporte, para descer em direção sul. Tentar chegar o mais ao sul possível, na Patagônia chilena ou mesmo, decidir atravessar a fronteira rumo à Terra do Fogo argentina... Olhar para as montanhas, buscar uma conversa entrecortada com alguém, usando todo o resquício de espanhol que me resta. Acordar tarde e, morrendo de frio, tomar um daqueles cafés que invariavelmente queimam a língua.

Depois de alguns dias, subir novamente em direção ao norte do Chile, buscando Santiago, que será só um ponto de partida para lavar algumas roupas e novamente pôr-se em marcha rumo ao deserto do Atacama e depois, rumo a Bolívia. La Paz e sua altitude (suspiros); e depois do litoral peruano, Bogotá, Cartagena, Quito, uma tentativa de Caribe até que, 1 mês depois de chegar a Santiago, chego a Caracas... Esses são os planos que não vou mais fazer...

Adoro saber o daqui a pouco... não sou o tipo de pessoa que esperar surpresas, na verdade, meus amores sabem que não gosto de surpresas. Muitas vezes já pedi que me dissessem o fim de um livro ou de um filme (eu sempre prefiro os finais felizes). Gosto de panejar minha vida, faço listas, arrumo a mala até uma semana antes de viajar e por ai vai. Isso não é sinal de organização, ao contrário, sou uma bagunça de gente... sou dos que esquece horários, pega ônibus errado, minhas listas e minha vontade de planejar, são uma tentativa de não sucumbir ao meus próprio caos.

Hoje estou vomitado (nem quente, nem frio, morno, e portanto, vomitado), não consigo planejar pela insegurança de não dar conta do que tenho de urgente. Queria sair correndo, queria sair pra comprar açaí e não mais voltar (uma carteira de cigarro não seria uma justificativa): mas isso seria o cúmulo do desespero - morar sozinho e deixar um bilhete.

Bem... sabendo-me solitário, vou-me ao encontro de mim mesmo...