25.2.13

Sobre manias, o mais e o menos, prazos e cartas de suicídio

Sou um homem cheio de manias, sou daqueles que esvazia a mochila todos os dias e repõe as coisas depois a noite para que na manhã seguinte esteja tudo pronto. Odeio pegar em maçanetas de banheiros públicos, sou capaz, caso não tenha papel, de ficar na porta esperando que alguém a abra do lado de fora. Tenho asco de chão de banheiros, mesmo os de casa, e prefiro apertar o dedo na porta que tomar banho descalço. Não tenho TOC, já fui averiguar com especialistas, pois minhas manias não chegam a ser obsessivas (ou são?). Eu gosto de minhas manias, devo dizer, as acho saudáveis e penso que elas me distinguem neste mar chamado humanidade.

As manias fazem parte do jeito Ney de ser... junto com usar reticências e não saber usar, até hoje, as abreviações internéticas (confesso que não as suporto). Sou o cara que vai morrer acentuando idéia (e todas que perderam descabidamente seus acentos nesta última ultrajante reforma ortográfica) e nunca vai deixar de usar trema (imaginem que o apelido do meu pai é Pingüim, tem como escrever sem trema?), meus filhos e netos vão me achar excêntrico e meus alunos vão ter que ouvir 20 vezes minha opinião sobre esta reforma.

Sendo o Ney que sou, percebo que tenho mudado muito ao logo do tempo, acho que sou melhor (e, sem modéstia, esse adjetivo pode ser usado em várias acepções) hoje que fui ontem; mas preciso matar grande parte de mim, TODOS OS DIAS, para caber dentro do mundo que também melhora. Eu acredito em limitações, mas desafiei muitas, venci algumas e perdi várias. Não sou responsável pela felicidade de ninguém, além da minha mesma, mas só consigo escrever isso e nunca viver.

A tempos descobri o pecado que mais me dói (não crendo em deus, não vejo a acepção da palavra pecado imputada em desobedecer alguma lei divina, entendo como uma debilidade do ser homem, do ser mulher neste mundo): sou um que inveja. Não quero que alguém não tenha algo para que eu tivesse; não lembro-me de pensar nesta vileza, contudo, queria ter uma grama parecida com a do vizinho, que quase sempre me parece mais verde.

Adoro hora marcada, odeio atrasos, sou daqueles que chega antes e se não vou chegar antes me desdobro para avisar e depois sou só culpa. Parafraseando alguém: acho que chegar atrasado é usar de poder; eu evito usar este poder quando o posso e fico irritado quando o usam comigo. Gosto dos prazos, mas sempre que eles são SUMAMENTE importantes, eu não dou conta deles e isso me devasta.

Outro dia eu vi, em algum site neste mundo em rede, bilhetes ou recados deixados por suicídas. Alguns bem tristes, outros com uma pitada irônica "de matar" (não pude evitar)... havia um em que o sujeito foi achado na sala de casa com um tiro na cabeça e o bilhete dizia: perdoe-me pela mancha no tapete. Que filho da puta.

Eu digo a meus mais próximos amigos que se me acharem morto e alguém falar em suicídio, que eles mandem investigar, pois eu acho a vida o reino das possibilidades, acho que viver é a melhor opção. Viver comporta tudo: hoje um lixo, amanhã exultante. Não tenho problemas com a dualidade vida e morte, eu prefiro a vida. Meu problema é com a existência... muitas vezes eu odeio existir, mas isso eu não posso cancelar. Pular de uma ponte ou tomar veneno, vai dar em morte, mas a existência fica, mesmo na idéia, saudades ou lembranças.

Se eu fosse cometer suicídio, eu escreveria um livro pra contar pra mim os motivos, eu não me despediria de ninguém, não deixaria cartas com instruções, ora, o suicídio já é um egoísmo e desespero sem limites, pra que as despedidas. Eu escreveria um livro pra mim, contaria tudo e tentaria descobri onde a vida descaralhou de vez pra eu concluir que precisava morrer e deixar pra trás todas as infinitas possibilidades que o viver comporta.

Mais um dia,

NEY Gomes

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