Santos têm, para sua justificativa, as noites escuras da alma; sempre gostei desta imagem. Alguns santos da tradição católica relatam ter passado por períodos em que não conseguiam sentir qualquer traço de seu relacionamento com seu deus ou que tinham a alma árida às graças que se lhes eram apresentadas. Nestes momentos de escuridão eles padeciam, mas lhes servia também para, no depois, verificar o quão grande era o amor de seu deus, visto que sofrer, na tradição cristão onde deus sofre a pena da cruz, é uma espécie de "participação" à divindade, é fazer parte dos desígnios de deus por provação.
Escritores tem suas ausências criativas, momentos em que não se lhes vêem a cabeça qualquer personagem, todos fogem. Há momentos em que nada consegue fazer sentido e nenhuma estória dá conta de ser contada. Alguns escritores famosos no panteão da literatura contemporânea, em momentos como estes, decidiram viajar, casar, ater-se a outras atividades, resolveram ou ir ao encontro dos personagens ou esperar que estes resolvessem que era momento de regressar.
Em noites escuras da alma ou em ausências criativas, fico pensando naquilo que não foi escrito, naquilo que não foi produzido, naquilo que a aridez não permitiu que viesse a nós. Já ouvi em algum lugar de alguém sobre um escritor que afirmou que ele tinha bem mais livros dentro dele, livros não escritos, personagens que se haviam recusado de sair à publico, em fim, ele tinha mais livros dentro dele que livros publicados.
Essas idéias vieram a mim, e as torno públicas, por que eu sempre escrevo, mas faço uso da trivialidade, escrevo o mais vulgar daquilo que imagino. Tenho cadernos e este blog e minha cabeça freme de idéias e estórias (sim, estórias), mas vejo tv, escrevo no orkut e tergiveso, e procrastino de tal maneira que tudo fica preso dentro de mim.
Será que eu também estou tendo o direito à minha noite escura? Como nunca fui um criativo, não terei a mpáfia de achar que ausentou-se-me a criatividade.
24.3.10
Sobre o que não foi escrito...
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Escreve ai vai!!!