14.1.13

Sobre saber-se machucado e seguir...

Doer faz parte de viver! Viemos ao mundo espremidos, empurrados por gritos de dor, gritamos e vivemos. Nada mais inerente à vida que a boa e hodierna dor. Contudo, não pretendo escrever uma ode à dor, não vou cantar as maravilhas da superação, pouco se me interessa que dores nos fazem crescer (algumas nos matam, assim, pura e simplemente!). Escrevo para falar das dores evitáveis...

Eu tenho duas cartas que jamais li (uma confissão); tenho certeza que o que está posto naquele amarelado papel são ofensas a mim (pois todos temos o santo direito de vez por outra na vida sermos filhos-da-puta, ou as pessoas tem todos o direito de nos achar assim). Essa dor, a dor de ler alguém que tem pouca importância pra mim hoje, mas que teve meu passado em suas mãos, eu evitei. Eu evito todas as que posso, pois a maioria delas, das dores da vida, eu simplesmente não posso fazer a menos que sofrê-las com galhardia, ou desbragadamente aos prantos.

Ninguém jamais conseguiu me esculhambar por telefone (um amor conseguiu gritar comigo, uma vez, ao telefone, mas causou-me um impacto tão grande que desde esse dia jamais consegui vê-la como um amor), é uma dor evitável. Eu não vejo filmes de terror, não olho fotos de não sei quem despedaçado ou dos animais sendo estripados não sei onde pra fazer não sei o que. Pra que, me pergunto, porque?! Não paro o carro diante de um acidente, a menos que minha ajuda seja necessária, não olho da janela um corpo estendido e evito os enterros como o Bolsonaro evita os gays.

Eu sei o que me machuca, o que faz meu espírito (posto que tenha um) estremecer; sei o que me faz M O R R E R (desse jeito, bem devagarinho), e, quando possível, evito estas dores... posso passar por covarde, e até negligênte, mas só eu sei de mim, só eu sei das dores que não sei evitar, daquelas que busco inconscientemente, daquelas que caem em mim sem aviso. Pra dar conta de todas as outras e não ficar insensível, evito as possíveis. E vou...

Agora mesmo, estou naquela fase M O R R E N D O, bem devagarinho, como se cada aspirada de ar que traz a certeza da vida, trouxesse junto punhais de dor. Eu permiti que me machucassem como poucas vezes, estou doendo, mas, deste jeito, com alguns sorrisos a menos, vou seguir!

Sinto dor, logo, existo!

P.S.: Pode ter ficado a pergunta: porque guardar as cartas, se elas não foram lidas? Eu as guardo porque calculo que um dia posso querer, por não ter mais nada pra fazer, sofrer esta dor evitada!

Um comentário:

  1. Lindo, Ney. Que lindo que tu és. :) Tem épocas que eu evito com tudo que há de mais sagrado, experiências emocionalmente significativas. Tenho tanta inabilidade diante do muito feio, quanto diante do muito bonito. Lembro do meu irmão, uma vez, comentando minha expressão ao dizer, Que lindo! pra alguma coisa... Ele disse, Nossa, parece que tu estás sofrendo. É assim que eu sinto. Sofro o belo como quem sofre a fome. O feio, o triste, o violento, também... sou facilmente alcançada, mesmo há muitas vidas de distância. Evito as cenas, evito as pessoas, evito em mim. Tem gente que me acha fria, mas só eu sei.

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Escreve ai vai!!!