4.2.10

Sobre uma quinta-feira qualquer


Em uma quinta-feira qualquer os meteorologistas disseram que iria chover (eu queri usar outro tempo verbal – choveria – mas ser “apropriado” é uma necessidade); eu, após ouvi-los, não tinha dúvida sobre a eminente chuva, ao invés, tinha a mesma certeza que eles. A previsão da chuva trouxe-me a lembrança de tantas outras previsões certas, inequívocas, inadiáveis. Previsões que sempre me esforcei por desconsiderar.

No segundo ano de faculdade previu-se (indeterminar o sujeito é uma forma maravilhosa de ser apropriado sem ser culpado) que a história não era minha vocação: previsão ignorada, castigo certo. O que me fez pensar superior a Édipo.

Alguns anos depois, tendo terminado a história previu-se ainda que dar aulas e ganhar aquilo, seria um erro brutal, as prementes necessidades fizeram-me Daniel, mas na cova dos cordeiros. Mais uma previsão inorada, mas um insucesso alcançado.

2004, o ano que quase parou, só não pode ser pior que 2008 (alguma coisa com os múltiplos de 4??), neste ano resolvi não fazer ou deixar fazer, previsões, o velho mundo parecia dar-me uma chance. Não desci ao abismo porque já estava no fundo. Minha capacidade de dar errado foi surpreendente (usar verbo no passado é tentar se convencer que é passado mesmo).

Depois de muito, ainda acredito em algumas previsões, mas decido, dia a dia, não prestar atenção nelas. Seguindo as previsões corro o risco de dar errado e ainda não ter desculpas.

2 comentários:

Escreve ai vai!!!